sexta-feira, 3 de agosto de 2018

"Papisa Joana" - Donna W. Cross. Por *Maria de Fátima Ribeiro dos Santos

CROSS, Donna Woolfolk.  Papisa Joana (São Paulo: Geração Editorial, 2009. 491p.)

A autora norte-americana Donna Woolfolk Cross possui bacharelado em Inglês pela Universidade de Pensilvânia.  Em Londres trabalhou como assistente editorial na W. H. Allen & Company. Nos EUA trabalhou em uma empresa de propaganda, Young & Rubicam.  Em 1972 fez mestrado em Literatura e Redação pela UCLA.  Em 1973 começou a lecionar no departamento de Inglês de uma faculdade no norte do Estado. É autora ainda de dois livros sobre Linguagem.
Cross constrói um romance de ficção histórica que narra a trajetória da vida de Joana desde seu nascimento até o seu restrito pontificado. A obra se passa na Idade Média, no século IX, época de ignorância, de miséria, de superstição e de muita brutalidade. Joana é filha de um cônego (cristão) e de uma mulher pagã (saxã) que se converte em cristã. Desde criança Joana já se apresentava curiosa e questionadora. Uma vez perguntou à sua mãe sobre os pagãos e pediu-lhe que contasse a história de seu povo. Seu pai, ao ouvir a história, mostra-se furioso e surra a mãe na frente dos filhos. Mateus, irmão mais velho, passa a ensiná-la a ler e escrever escondido do pai e ao perceber tamanho interesse pelo estudo, presenteia Joana com um medalhão de Santa Catarina de Sena. Como se sabe, Catarina de Sena é uma das doutoras da igreja que se destacou pela inteligência; buscava o autoconhecimento para viver sua fé e seu amor por Jesus.
Ao longo de sua vida, Joana percebe que o mundo do conhecimento não foi feito para as mulheres, porém aos poucos e com muita persistência e sorte ela vence seus obstáculos: consegue se destacar nos estudos e chama a atenção de seu tutor, Asclépio, que a indica para a escola em uma cidade maior, Dorstadt; eventualmente, ela assume a identidade masculina de João Ânglico por ocasião de uma tragédia e vai morar no monastério de Fulda. É neste lugar que ela / ele assume a função de monge copista e aprende a arte da medicina. Anos depois suas ambições a levam a Roma, onde entenderemos como se dará a ascensão de Joana / João a Papa João VIII. 
Percebe-se que Joana teve momentos de dúvidas quanto a sua fé. Ora se achava pensando na fé cristã do pai, ora na crença pagã da mãe. Mas quando chegou ao papado descobre a sua autêntica fé em Deus. Outro aspecto interessante da obra foi a concretização das palavras da vidente, com quem Joana se consultou ainda na adolescência:  “----Criança trocada, você é o que não será; você será o que não é.” E continuou: “Você aspira ao que é proibido.”(p.154) Quando ela chega a papa, ela entende o verdadeiro significado das palavras da vidente.
Como pontos específicos da obra, pode-se destacar o grande interesse de Joana pelo conhecimento. A sua vida foi pautada basicamente nessa busca/procura do saber. As obras que ela leu, de autores clássicos - Homero, Hipócrates, Oribásio, Alexandre de Trales, Santo Agostinho e outros - deram-lhe o necessário suporte para direcionar a própria vida. Sua inteligência concorreu para o enfrentamento dos desafios da sociedade da época. Fatos históricos são mencionados como forma de fidelizar a época da Idade Media. Em nota, a autora coloca argumentos contrários e também favoráveis que podem suscitar sua existência, no entanto cabe ao leitor decidir se a Papisa Joana existiu ou não. Recomenda-se a leitura, pois é envolvente e rica de informações históricas. 
* Maria de Fátima Ribeiro dos Santos é professora universitária, exímia leitora e como a Papisa Joana, possui uma sede inesgotável pelo conhecimento.




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