segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Dica de filme: Lope


O filme Lope (2010) tenta mostrar, através de alguns fatos interessantes, a história da vida do poeta e grande dramaturgo espanhol Lope de Vega, que ajudou a construir a época de ouro da literatura espanhola renovando a arte do teatro.


Dividido entre o amor de duas mulheres, Isabel ( filha de um grande dono de teatro de Madri, para quem Lope passa a escrever suas comédias) e a aristocrata e pura Elena, Lope escreve e encanta a toda a sociedade madrilenha, mas não sem evitar problemas com dívidas e ofensas públicas.


A ficha técnica do filme é uma surpresa boa: fotografia e trilha sonora impecáveis. Lope é uma co-produção Brasil/Espanha; seu diretor é o brasileiro Andrucha Waddington e tem participações especiais de Selton Mello (um aristocrata que, para conquistar sua amada Elena, paga para Lope fazer lindos poemas) e Sonia Braga (mãe do poeta).




"Desmaiar-se, atrever-se, estar furioso,
áspero, terno, liberal, esquivo,
alentado, mortal, defunto, vivo,
leal, traidor, covarde e valoroso;

não ver, fora do bem, centro e repouso,
mostrar-se alegre, triste, humilde, altivo,
enfadado, valente, fugitivo,
satisfeito, ofendido, receoso;

furtar o rosto ao claro desengano,
beber veneno qual licor suave,
esquecer o proveito, amar o dano;

acreditar que o céu no inferno cabe,
doar sua vida e alma a um desengano,
isto é amor; quem o provou bem sabe."
    
(Definição do amor, Lope de Vega)


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Sobre censura x censurados, por Pablo Neruda

(tiagosousa.net)

"Debes medirte, caballero,
compañero debes medirte,
me aconsejaron poco a poco,
me aconsejaron mucho a mucho,
hasta que me fui desmidiendo,
y cada vez me desmedí,
me desmedí cada día
hasta llegar a ser sin duda
horripilante y desmedido,
desmedido a pesar de todo,
inaceptable y desmedido
desmedidamente dichoso
en mi insurgente desmesura.[...]"

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Deves medir-te, cavaleiro,
companheiro deves medir-te,
me aconselharam pouco a pouco,
me aconselharam muito a muito,
até que fui me desmedindo
e cada vez me desmedi,
me desmedi cada dia
até chegar a ser sem dúvida
horripilante e desmedido,
desmedidamente ditoso
em minha insurgente desmesura.
(NERUDA, Pablo. O coração amarelo.)

O que somos, o que resta ainda de nós, quando nos calam?

domingo, 16 de outubro de 2011

Professor: amor pela profissão



Ontem foi meu dia...Dia do Professor...tantas dificuldades... tantos acertos... tantas discriminações... recriminações...desvalorização...algum reconhecimento...pouco pagamento...mas no final, o que fica pra mim, ainda é muito amor à profissão. Um grande abraço a todos os meus colegas educadores, persistentes  e remanescentes na arte de ensinar...:)


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Começando a semana com Drummond


Fazer da areia, terra e água uma canção
Depois, moldar de vento a flauta
que há de espalhar esta canção
Por fim tecer de amor lábios e dedos
que a flauta animarão
E a flauta, sem nada mais que puro som
envolverá o sonho da canção
por todo o sempre, neste mundo
(CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

M.Butterfly - dica de filme


Já tinha assistido M Butterfly (1993) há vários anos, ainda adolescente (abapha!) mas ontem passou na TV a cabo e assisti de novo...Como vocês sabem, a releitura de uma obra sempre nos propõe diferentes pensamentos, até porque hoje tenho outras experiências de vida que me permitem "enxergar" o filme de outra forma. E isso é bom.


René Gallimard (o excelente ator Jeremy Irons) é um diplomata recém - chegado à China dos turbulentos anos 1960, uma época em que o regime comunista busca seu espaço na sociedade. René acredita firmemente que ao entendermos a cultura do outro, é possível se estabelecer uma convivência tolerante entre Ocidente e Oriente. E ele começa a se inserir nessa cultura milenar até conhecer a cantora de ópera Song Liling (o igualmente ótimo John Lone, do clássico O último imperador -1987), e se apaixona perdidamente por ela.


Só tem um problema neste relacionamento: René não sabe que todos os papéis femininos da Ópera de Pequim são, culturalmente e milenarmente, interpretados por homens, e não mulheres. E Song consegue "enganar" René por vários anos justificando seus pudores pela cultura chinesa. E neste relacionamento eles reinventam o sexo e o amor.


M Butterfly é uma metáfora para a imagem, para a visão do que queremos acreditar. Será que não enxergamos o que está à nossa frente porque não queremos ou porque não conseguimos ver, devido a nossa educação ocidental, tão limitada e cheia de preconceitos?