sábado, 22 de setembro de 2012

D.H. Lawrence e O amante de Lady Chatterley


Escolhi hoje falar sobre D.H. Lawrence (D=David e H=Herbert), autor inglês do início do século XX, por achar necessário já que estamos em tempos de histeria pela leitura de "50 tons de cinza" e suas variantes...rsss  O amante de Lady Chatterley (Lady Chatterley's lover, 1928) foi considerado por muitos daquela época como um romance proibido e pornográfico, até mesmo pelo próprio autor. Utilizando uma linguagem chocante para o puritanismo inglês, Lawrence chegou a imprimir o romance em Florença, pois não conseguiu editores na Inglaterra. A obra apenas chega massivamente aos leitores após a década de 1960; com a Revolução Sexual, muitos textos literários tidos antes como proibidos e censurados passarão a ser lidos efetivamente...


Lawrence aborda aqui duas temáticas extremamente caras à sociedade inglesa: o sexo e a relação de duas pessoas de classes diferentes. Constance, a Lady Chatterley, casa-se muito nova e logo seu marido é enviado para lutar na 1ª Guerra Mundial. Sua alegria se desfaz com a volta dele, pois está paraplégico e impotente. Daí em diante sua vida se resume a cuidar do marido e aplacar seu desejo sexual. É interessante perceber as reflexões de Constance em relação ao sexo e o que este representa para um homem e uma mulher; ela conclui que ter um parceiro sexual bom nem sempre vem acompanhado do que uma mulher precisa em um relacionamento, o companheirismo. Mas essa percepção muda ao conhecer Mellors, rapaz de classe inferior que trabalha vigiando os limites da extensa propriedade de Lord Chatterley....


Oriundo da classe trabalhadora, Mellors trata Constance como mulher, e não como um bibelô, intocável. As descrições explícitas de sexo entre os dois, claro, chocaram naquela época, mas hoje não. Os dois começam a se entender e a conversar de igual para igual sobre o que os une e o que os pode separar, e Constance se sente valorizada como mulher. Até que ela engravida e tem que resolver como ficará seu futuro...

"Ela abraçou-o sob a camisa, mas sentiu medo, medo daquele corpo magro, macio e nu, mas que parecia tão forte, medo daqueles músculos violentos. Ela contraiu-se com medo. E quando ele disse "é bom, é bom!" algo dentro dela estremeceu, e qualquer coisa no seu espírito acordou, pronto a resistir. A resistir àquela terrível intimidade física e a urgência da posse. E o êxtase violento da paixão não a invadiu. Ficou de mãos inertes no corpo do homem em luta. E, embora tentasse, não conseguia deixar de observar friamente, distante, o que se passava; e o movimento das ancas do homem era ridículo, e mais ridículo o frenesi do pênis até à pequena crise da ejaculação. Sim, aquilo era o amor, aquele movimento ridículo das nádegas, aquele esmorecimento de um pênis insignificante e úmido. Era esse o divino amor! "

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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Estômago


O filme brasileiro Estômago (2007) representa muito bem a metáfora "Na vida há os que devoram e os que são devorados"....Com o excelente trabalho do ator João Miguel (interpretando o nordestino Raimundo), a história foi o grande destaque do Festival do Rio 2007....


Raimundo chega à cidade grande sem nenhuma perspectiva, mas logo arranja trabalho no bar de Zulmiro, que é quem lhe ensina a fazer coxinhas e pasteis para vender no bar. Logo o nordestino percebe não só que tem o dom culinário, como também observa que a comida é o meio mais rápido para se chegar no coração das pessoas... e satisfazê-las. Raimundo também engata um romance com a bela prostituta Íria (perfeita no papel, a atriz Fabiula Nascimento), a qual será sua fonte de inspiração e perdição...