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Passar roupas lhe dava paz. Considerava sua melhor terapia e recorria diariamente a ela, inclusive depois de um longo dia de trabalho. (p.9)
Olá beletristas, tudo bom? Hoje trago para a vida de leitura de vocês o romance mexicano Lupita gostava de engomar (publicado originalmente em 2014), da autora Laura Esquivel. Vocês devem conhecê-la mais por seu best seller Como água para chocolate (1989), que fez um enorme sucesso mesmo depois de ser adaptado para o cinema em 1992:
Esquivel é uma autora mexicana consagrada, tem outras publicações literárias e já há algum tempo se dedica à política, sendo hoje deputada pelo Partido Movimiento de Regeneración Nacional (MORENA). Mas vamos à história de Lupita e do porquê ela gostava de engomar roupas: porque esse ato funcionava como uma "válvula de escape", liberando-a do stress cotidiano de policial e também ocupava sua mente, para que ela não tivesse nenhuma recaída já que era uma alcoólatra em tratamento.
Logo no primeiro capítulo descobrimos o conflito da história: Lupita testemunha o assassinato do administrador distrital que ela tanto admira, o doutor Larreaga, a quem ela acompanhava desde quando ele fazia campanha política. No decorrer da narrativa, muitas são as pistas que Lupita deve seguir para montar o "quebra-cabeças" desta morte estranha, estranha sim porque não conseguiram identificar nem qual objeto perfurocortante atingiu a garganta do administrador de forma fulminante.
Mas Lupita não gostava apenas de engomar. Ao longo dos capítulos vamos nos inteirando do quê mais ela gosta de fazer (coisas boas e ruins) e conhecemos sua vida pregressa bem como seus traumas e o histórico de abusos que a levaram para o álcool. Lupita é uma personagem complexa, ao mesmo tempo agressiva e carente de amor e atenção, com baixa auto estima e que carrega uma culpa imensa sobre uma tragédia familiar.
O romance segue a ideia de ser uma narrativa policial, porém a carga dramática contida em Lupita salta aos olhos em todos os capítulos; além do mais, a história contém um pano de fundo de crítica social aos problemas mexicanos que simplesmente destroem qualquer tentativa de progresso no país: corrupção política em todos os níveis, narcotráfico, pobreza e problemas com as comunidades indígenas, que ainda são muito fortes e atuantes no México.
Outro ponto interessante acrescido em quase todos os capítulos são pequenas histórias sobre a cultura mexicana, que explicam sua cultura, hábitos e crenças, muito vinculadas aos povos chamados pré-hispânicos, como os astecas. A importância da liderança dos xamãs - guias espirituais que até hoje gozam de seu espaço na vida do mexicano, convivendo tranquilamente com a religião católica - também se faz presente na história de várias formas, e esse entendimento será peça-chave para a solução do crime.
E que, assim como os deputados e senadores aproveitavam a escuridão da madrugada para aprovar às pressas reformas energéticas e fazer acordos infames, covardes e ignominiosos para entregar a empresas estrangeiras os recursos naturais do país, Lupita descobriu que existia outro México. (p.150)