terça-feira, 12 de março de 2019

"A uruguaia" - Pedro Mairal

(São Paulo: Todavia, 2018) compre aqui

"Ninguém é somente uma pessoa, cada um é um nó de pessoas..."

Olá beletristas! Tudo bom, gente? Trago mais uma indicação de leitura que eu tenho certeza que vcs vão gostar - um romancinho curtinho do autor argentino contemporâneo Pedro Mairal: "A uruguaia" (123 pág.) Essa leitura chegou pra mim de uma indicação de uma amiga do clube de leitura (segue lá no Instagram @littlewomen_clubedeleitura) e eu comprei e li no Kindle.

Originalmente o romance foi publicado em 2016 e já alcançou sucesso de crítica, tendo sido traduzido para inúmeros idiomas também. O autor tem 49 anos e é considerado um dos grandes nomes da literatura latino-americana da atualidade. Se a história flui muito bem, a leitura idem, até porque entrega muitas referências do nosso mundo cotidiano, especialmente se vc leitor também tem a mesma idade e os mesmos gostos e desafios do narrador-personagem Lucas Pereyra- coisas de gente que chegou aos 40 anos.

Lucas conta a um interlocutor, de forma despretensiosa, sobre um dia que ele passou no Uruguai a fim de resolver negócios financeiros pois possuía conta bancária lá, e não na Argentina: ele deveria sacar uma soma alta de dinheiro, algo em torno de 15 mil dólares, que foram enviados por 2 editoras como adiantamento para que Lucas escrevesse 2 livros, um de crônicas e um romance. Afundado em dívidas e vivendo um casamento que não lhe satisfazia, o narrador começa a expor suas frustrações e angústias misturadas com memórias de relacionamentos anteriores e de sua vida familiar enquanto aguarda o fim da viagem de ferryboat para chegar em Montevidéu. 

Ficamos, claro, na expectativa de que algo vai acontecer com Lucas quando ele tiver sacado todo esse dinheiro e depois retornar à Argentina - que era o plano inicial. Percebemos, com o desenrolar da história, que Lucas tem mais outros interesses no Uruguai que não sejam apenas os financeiros e profissionais. Por exemplo, (re) encontrar-se com uma bela uruguaia, Magalí Guerra, que do alto de seus 20 anos seduziu Lucas, um quarentão imaturo, alguns meses atrás quando ambos se conheceram em um congresso de Literatura. O que acontecerá nesse dia em Montevidéu, será, sem brincadeira nenhuma, uma grande sucessão de erros, acertos e ingenuidades. E algumas lições.

Mas não pense que esta é uma história amarga e melancólica de um quarentão egoísta que fica o tempo todo reclamando do que não deu certo em sua vida, ou de que não estava preparado pra ser pai, ou do quanto odeia dar aulas porque isso rouba seu tempo, enquanto ele poderia estar escrevendo seu tão sonhado romance; não. A história em muitos momentos se torna mais cômica do que trágica, exatamente. Talvez porque na vida real, as coisas mais inesperadas devem ser encaradas dessa forma mesmo: com menos desespero e com mais lucidez. Mesmo que essa lucidez só chegue beeeem mais tarde, porque acredito que só conseguimos entender e explicar os fatos do passado depois de um bom tempo.

Ler "A uruguaia" é garantia não só de boas risadas (ainda que nervosas); é garantia de uma jornada rumo ao autoconhecimento; te leva a fazer um balanço de vida até aqui, até essa metade da vida que é quando você chega, como Lucas e como eu, aos 40 anos de idade. Você se questiona se realmente fez as escolhas certas e procura o tempo todo algo novo na esperança de que isso te tire de uma rotina desgastante e sem cor. Você corre atrás de aventuras na esperança de resgatar a jovialidade e a coragem do passado. Só não podemos fazer como Lucas e achar que tudo acontece sem consequências ou sem atingir as pessoas ao nosso redor. Como toda época da vida, a maturidade só chega com a experiência.