sábado, 26 de setembro de 2015

Que horas ela volta? - nossa ideia de Brasil



Assisti o maravilhoso Que horas ela volta? (2015), em cartaz nas principais salas de cinema do país, e tenho uma frase para resumir o que o filme provocou em mim: tocante sem ser piégas. É drama, sem ser dramático...é leve, mas trata de um tema caro para o nosso Brasil: a relação entre patrão e empregada doméstica.


Val é como tantas mulheres nordestinas que vão pra São Paulo em busca de emprego - acaba sendo babá de Fabinho - filho de uma família de classe alta - e com o tempo, atua como sua segunda mãe, já que a mãe dele mesmo quase não fica em casa. Lá no Nordeste, no entanto, a filha de Val, Jéssica, está sendo criada por outra pessoa com o dinheiro enviado todo mês pela doméstica...


O filme mostra as relações não - ditas e tênues, sutis mesmo, entre Val e a família para quem ela trabalha, que serão questionadas e colocadas à prova com a chegada de Jéssica, que vem fazer vestibular em SP. Na mesma hora, toda aquela situação vivenciada e considerada "normal" há tantos anos, será confrontada pelo olhar crítico da filha recém-chegada da empregada: por que dormir no quartinho dos fundos? Por que não pode entrar na piscina? A empregada é considerada da família mas não come a mesma comida dos patrões?


A filha da empregada estuda mais e tem mais chances de passar no vestibular - tendo frequentado escola pública no Nordeste - do que o filho do patrão, que frequentou a escola top particular? A chegada de Jéssica mudará não só as perspectivas de emprego de Val, mas toda a forma de enxergar o mundo...Porque o Brasil tem mudado mesmo, a despeito do que muitos pensam negativamente...

Quando assisti Que horas ela volta?, logo lembrei do filme Espanglês (2004):
 

Recomendo a você que o assista também, para perceber como são as relações de trabalhador doméstico e patrão em um país como os EUA: é por isso que lá, como em países desenvolvidos, ter uma empregada doméstica é artigo de luxo, pelo qual só os ricos podem pagar. Sabe por quê? Quando a maior parte da população adquire educação, ela passa a querer também empregos condizentes com seu grau de instrução. Dessa forma, começa a faltar pessoas para trabalhar em empregos como os de empregada doméstica...onde há mais procura do que oferta, o valor do serviço R$$$ sobe...! Mas para além da questão econômica, é claro que existe o fator cultural. E nesse ponto, nossa ideia de Brasil, que ainda apóia a figura da empregada doméstica como uma extensão do nosso passado escravista, é no mínimo vergonhoso...