terça-feira, 9 de julho de 2019

"Setenta" - romance de Henrique Schneider

(Porto Alegre: Não Editora, 2019)
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“E por que lhe faziam tanto mal aqueles homens? Impossível que não soubessem que Raul era apenas um pobre coitado, um zé-ninguém qualquer, alguém sem a menor ideia de como havia acontecido o tal sequestro e sem maiores conhecimentos sobre qualquer assunto, a não ser o trabalho, futebol e banalidades.” (p. 147)

Ano de 1970, Porto Alegre (RS). O Brasil vive simultaneamente o auge da ditadura militar e a final de uma Copa do Mundo de futebol. Raul, um jovem bancário de 25 anos que leva uma vida sem grandes sobressaltos junto à mãe viúva, é preso por engano, confundido com um sequestrador/ guerrilheiro. Por 10 dias Raul é torturado por homens que querem que ele explique como ocorreu o sequestro do tal cônsul americano, mas Raul, que nunca ligou pra política, não sabe do que eles estão falando e experimenta o inferno que nem suspeitava existir em seu país, o qual vive um grande momento de ordem e progresso conforme noticiado nos jornais. 

O romance do autor gaúcho Henrique Schneider, que levou o Prêmio Paraná de Literatura em 2017, mexe, cutuca e remexe numa ferida que lateja constantemente na história do Brasil: o regime militar e a tortura como forma de se fazer justiça. É uma narrativa corajosa que coloca à prova o discurso legítimo do “cidadão de bem” brasileiro, afinal de contas, nem Raul, que era funcionário, filho e cidadão-modelo escapou das injustiças de um regime de exceção.

“E a outra coisa, ainda mais importante: isso que tá acontecendo nunca aconteceu! Tu nunca foi preso! Nunca!” (p.12)