domingo, 20 de agosto de 2017

O colar de coral - Antonio Callado

(Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 2010)

Eu quero apenas fundar uma cidade. Uma cidade anarquista. Começará com duas pessoas, naturalmente, três. Aquilo é zona muito acossada pela seca. [...] (p.221)

Olá meus queridos, como vão? Todos já estão "engatilhados" nos afazeres acadêmicos do segundo semestre? Ainda estou meio "lenta", inclusive com as leituras; creio que é porque este semestre está mais cheio que aquele que passou, mas faz parte da vida de ser professora, né...

Nossa indicação de leitura é todo o livro Teatro Completo do Antonio Callado. Aqui estão 9 peças teatrais que ele escreveu e publicou na década de 1950 e início de 1960. Primeiramente quero dizer que acho impressionante o Callado ser um autor tão pouco mencionado nas aulas de literatura brasileira nas universidades...Um cara que: foi jornalista correspondente de guerra de O Globo - cobriu a 2ª Guerra Mundial e até a Guerra do Vietnã; trabalhou na BBC de Londres, escreveu uma obra emblemática e considerada maldita pelo regime militar (Quarup, 1967), pertenceu à ABL, enfim! Um autor com uma vida dedicada à arte de escrever e de informar e de ter compromisso com a justiça e a igualdade social não poderia desaparecer de nosso cenário cultural.

Dito isto, vamos a O Colar de Coral: a peça foi publicada em 1957 e está dividida em 3 atos. Narra a história de ódio entre 2 famílias, os Monteiros e os Macedos da cidade de Icó no Ceará, que no tempo da peça, ou seja, na atualidade, ambas famílias estão falidas, tendo migrado para a cidade do Rio de Janeiro. Uma noite, Cláudio Macedo adentra a casa dos Monteiro para conhecer Manuela e pedir-lhe um favor; assim como ele, a moça ouve desde criança sobre as tristes histórias de ódio que permeiam as famílias há 200 anos.

Cláudio pergunta se Manuela sabe onde está um cofre que o pai dele carregava no dia em que desapareceu - o cofre continha o colar de coral de Matilde, tia de Manuela, e as esporas de prata de Radagásio, tio de Cláudio. No passado eles se apaixonaram e morreram por esse amor, porém esses pertences haviam ficado com Jovino, pai de Cláudio.

Diante desse pedido e da declaração insistente de Cláudio, de que a única coisa que lhe importa é resgatar o pouco de terra que ainda resta de sua família para fundar uma comunidade anarquista, Manuela se vê em conflito: ela deve acreditar nas supostas palavras sinceras de um Macedo ou deve perpetuar o ódio alimentado por sua avó?

É interessante notar toda a crítica social contida no texto e a coragem de falar sobre anarquismo em plena época de intolerância e Guerra Fria; ao mesmo tempo que faz isso, Callado nos presenteia com falas líricas sobre amor, ódio e família: o que nos une no fim das contas?

Porque isto de ódio é um hábito. Aí é que o amor é diferente. Ódio e amor são feitos de fogo. A diferença está nos materiais consumidos. [...] (p.261)