(Rio de Janeiro: Alfaguara, 2018)
Olá beletristas de plantão, tudo bom? Hoje trago pra vocês minhas impressões sobre o livro de contos Aquela água toda (2018), do paulista João Anzanello Carrascoza. Confesso que é meu primeiro contato com a escrita do autor mas sempre tive muita vontade de lê-lo - são muitas resenhas positivas sobre suas obras, além do fato dele ter ganho vários prêmios literários nacionais e internacionais, a exemplo do nosso Jabuti e do White Ravens.
Claro que é difícil resenhar um livro de contos - sempre vamos falar das narrativas que nos tocaram mais ou que nos deixaram mais reflexivos. Porém podemos destacar alguns pontos em comum nos 11 contos: a linguagem de Carrascoza é lírica, poética mesmo, e cheia de metáforas para o que denominamos de vida cotidiana e a passagem do tempo. Logo identificamos a imagem da água, que está presente de alguma forma em todas as narrativas, seja por meio do mar ou das lágrimas. O conto que dá título à obra é assim: um garoto saboreia o momento de estar no mar, sua maior felicidade:
O menino comia a sua vivência com gosto, distraído de desejos, só com sua vontade de mar. (p.15)
Outra característica percebida é que na maioria dos contos temos um narrador criança, que sempre parece ter toda sua vida resolvida até a chegada de um indicador conflituoso do mundo dos adultos - é o que acontece no conto "Paz", quando o garoto percebe a dor da mãe ao receber um envelope branco, que depois descobrimos ser a cobrança de um banco pois as prestações da casa não foram pagas.
Aproveitar o instante é algo recorrente nos contos. A urgência de entender que não sabemos os rumos da vida futura é que nos deveria tornar mais atentos ao hoje, ao presente, valorizando as pessoas que estão ao nosso redor. É o que encontramos no belo "Chave", em que o filho caçula gosta de passar seu tempo junto à mãe e é criticado por isso pelos irmãos:
[...] os dois se oferecendo ao instante, à esperança de esticá-lo como um elástico, ou de alargar o sentimento que experimentávamos, um minuto apenas, aglutinado ao outro. (p.98)
Mas não posso deixar de falar de "Cristina": a delicadeza com que o olhar e o sentimento do primeiro amor é construído me fez voltar à minha infância. Ter novamente a sensação da primeira vez traduzida em um conto me fez realmente ser fã do Carrascoza:
[...] descobri - no fundo, pressentia! - que as coisas boas, tanto quanto as ruins, estão o tempo todo ao nosso lado, basta estender a mão para apanhá-las. (p.21)
Uma pergunta parece estar sempre ecoando nos contos: como lidar com a inexorável passagem do tempo? A resposta também está lá: valorizando os pequenos instantes de felicidade, saboreando o gozo do momento, a paz do silêncio, enfim, a expectativa gostosa que precede o clímax da vida.
O seu legado estava todo ali, naquele momento que usufruía junto delas. (p.111)