quarta-feira, 30 de maio de 2012

Para gostar de Bocage!


Manuel Maria Barbosa l'Hedois du Bocage (1765-1805), ou simplesmente Bocage, foi um dos principais, se não O principal representante da poesia árcade em Portugal. Mas esse post não vai ser pra falar do Neoclassicismo ou de suas características tão repetidas pra quem dá aulas no Ensino Médio rsss. Não...Bocage tem uma parte de sua obra bem pouco divulgada, em que trata de temas um pouco mais...digamos....picantes!


Conhecidamente devasso e irreverente, por conta de infelicidades familiares Bocage resolve servir o Exército fixando-se depois na Marinha. Dessa forma viaja por muitos países, chegando inclusive a morar no Rio de Janeiro por um tempo. As experiências de vida, como a prisão pela Inquisição e a deserção da Marinha o levam à boemia e aos excessos. Por fim, morre de aneurisma em Portugal. Aqui um trecho que retrata sua vida louca, em que ele desabafa achando ser "imortal" e por isso mesmo, abusa de tudo; mesmo assim sabe que os prazeres são passageiros:

Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel de paixões, que me arrastava.
Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
Em mim quase imortal a essência humana.[...]





Bocage é dono de uma obra poética bem variada: passeia pelo estilo árcade em si, mas também critica muito a política portuguesa e envereda na literatura erótica. Não se conhece bem suas musas, até porque foram várias e de identidades incertas. Mas deixo hoje pra vocês um poema que fala do encontro de dois amantes...pra quem sabe, inspirar o Dia dos Namorados que está chegando! :)

 SONETO DO PRAZER MAIOR

Amar dentro do peito uma donzela;
Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura;
Falar-lhe, conseguindo alta ventura,
Depois da meia-noite na janela:

Fazê-la vir abaixo, e com cautela
Sentir abrir a porta, que murmura;
Entrar pé ante pé, e com ternura
Apertá-la nos braços casta e bela:

Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos,
E a boca, com prazer o mais jucundo,
Apalpar-lhe de leve os dois pimpolhos:

Vê-la rendida enfim a Amor fecundo;
Ditoso levantar-lhe os brancos folhos;
É este o maior gosto que há no mundo.


Pra quem gostou e quer ler mais coisas proibidas, acesse aqui!

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Outra licença poética: Sylvia Plath


A poeta norte-americana Sylvia Plath (1932-1963) é um daqueles intelectuais não muito citados em aulas ou compêndios canônicos...Talvez por ser mulher...Talvez por trabalhar com temas tabus para a sociedade: a morte, o suicídio, a crítica à hipocrisia.... Com uma linguagem extremamente honesta e ferina, ainda que simbólica e hermética, Plath conquistou em vida um breve reconhecimento pois encontrou dificuldade para publicar seus escritos - os editores não gostavam de sua temática e de seu estilo. Após a morte, aos 32 anos, seus poemas ganharam fama e respeito, colocando-a de vez nos debates dos meios acadêmicos.


Ela sempre foi uma criança precoce; muito inteligente, escrevia desde os 8 anos, colocando no papel suas dores e inquietações...Perdeu o pai cedo também e foi criada pela mãe em uma cidadezinha americana bem burguesa; teve a melhor educação que uma garota da década de 1950 poderia ter, mas ao invés de se reduzir à vida fútil e caseira do subúrbio, opta por ir à faculdade, o Smith College, onde se forma com louvor em 1955. Por isso ganha uma bolsa de estudos ( a Fullbright Scholarship) para ir à Universidade de Cambridge, na Inglaterra; sua estadia lá lhe rende não só o amadurecimento poético, mas também um casamento com o atormentado e egocêntrico poeta inglês Ted Hughes.


Foi paixão imediata...foi um encontro entre pessoas da mesma espécie...Ted foi a pessoa que mais incentivou Sylvia a escrever, a colocar pra fora seus sentimentos. Tiveram 2 filhos... a sintonia entre os dois era impressionável, segundo amigos do casal. Mas não foi o bastante para que ficassem juntos. A personalidade maníaco-depressiva de Sylvia não se conformou com as bebedeiras e as traições de Ted; a eterna necessidade do marido de ser o centro das atenções lhe consumiu de tal forma que Sylvia sucumbiu: após tentar inutilmente reatar um casamento esfacelado, e consequentemente ser rejeitada, ela se suicida inalando gás de cozinha... 


Ariel não é um livro para leitores inexperientes. Nem para leitores com tendência à depressão.  Foi a última produção de Plath, publicada em 1965 por Ted Hughes, que o fez para se eximir de qualquer acusação da sociedade; sim, pois muitos o condenaram por levá-la ao suicídio. No entanto, ao lermos a biografia e os poemas de Plath percebemos que seu tormento vem de muito cedo...Pertencente a uma geração de poetas chamada de Confessional Poets, como Robet Lowell - outro atormentado - só a entendemos plenamente se tivermos contato com sua história pessoal: a não-aceitação da morte do pai, 2 tentativas de suicídio, passagens por hospitais psiquiátricos, a relação de amor e ódio com Ted, tudo isso justifica o uso de termos mórbidos e da linguagem direta e irônica. Sylvia Plath não temia a morte; e ela gostava de desafiar a todos. Por isso deixo hoje com vocês o eterno e famoso Lady Lazarus...em que o eu lírico conta sua história sofrida....desafia e vence a morte no final...ressuscitando:

Tentei outra vez. 
Um ano em cada dez 
Eu dou um jeito —

Um tipo de milagre ambulante, minha pele 
Brilha feito abajur nazista, 
Meu pé direito

Peso de papel,
Meu rosto inexpressivo, fino
Linho judeu.

Dispa o pano 
Oh, meu inimigo. 
Eu te aterrorizo? —

O nariz, as covas dos olhos, a dentadura toda? 
O hálito amargo 
Desaparece num dia.

Em muito breve a carne
Que a caverna carcomeu vai estar
Em casa, em mim.

E eu uma mulher sempre sorrindo.
Tenho apenas trinta anos.
E como o gato, nove vidas para morrer.

Esta é a Número Três. 
Que besteira 
Aniquilar-se a cada década.

Um milhão de filamentos.
A multidão, comendo amendoim,
Se aglomera para ver

Desenfaixarem minhas mãos e pés —
O grande striptease. 
Senhoras e senhores,

Eis minhas mãos
Meus joelhos.
Posso ser só pele e osso,

No entanto sou a mesma, idêntica mulher. 
Tinha dez anos na primeira vez. 
Foi acidente.

Na segunda quis
Ir até o fim e nunca mais voltar.
Oscilei, fechada

Como uma concha do mar.
Tiveram que chamar e chamar
E tirar os vermes de mim como pérolas grudentas.

Morrer
É uma arte, como tudo o mais.
Nisso sou excepcional.

Desse jeito faço parecer infernal. 
Desse jeito faço parecer real. 
Vão dizer que tenho vocação.

E muito fácil fazer isso numa cela. 
É muito fácil fazer isso e ficar nela. 
É o teatral

Regresso em plena luz do sol
Ao mesmo local, ao mesmo rosto, ao mesmo grito
Aflito e brutal:

"Milagre!"
Que me deixa mal.
Há um preço

Para olhar minhas cicatrizes, há um preço 
Para ouvir meu coração —
Ele bate, afinal.

E há um preço, um preço muito alto 
Para cada palavra ou cada toque 
Ou mancha de sangue

Ou um pedaço de meu cabelo ou de minhas roupas. 
E aí, Herr Doktor. 
E aí, Herr Inimigo.

Sou sua obra-prima,
Sou seu tesouro,
O bebê de ouro puro

Que se funde num grito.
Me viro e carbonizo.
Não pense que subestimo sua grande preocupação.

Cinza, cinza —
Você fuça e atiça.
Carne, osso, não há mais nada ali —

Barra de sabão, 
Anel de casamento, 
Obturação de ouro.

Herr Deus, Herr Lúcifer
Cuidado.
Cuidado.

Saída das cinzas
Me levanto com meu cabelo ruivo
E devoro homens como ar.



Para quem quiser conhecer um pouco sobre Plath, assista ao filme que vale a pena!


sábado, 12 de maio de 2012

Licença poética: Rimbaud

Outro dia lembrei de um poeta cujos escritos me caíram nas mãos ainda na adolescência...Querendo ser rebelde, descobri o francês Arthur Rimbaud.


Jovem, intempestivo, maldito, infernal, genial e inquieto, Rimbaud (1854-1891) começou a escrever ainda criança, tanto em francês quanto em latim e isso contribuiu para que ele recebesse vários prêmios. Ávido por novas experiências, aos 15 anos resolve cair no mundo (primeiro em Paris!), apóia os comunistas, vira anarquista e choca a todos com seus cabelos longos, bebedeiras e discursos nas tavernas soturnas parisienses. 

(Rimbaud é quem está com a mão no queixo; a seu lado, meio careca, Paul Verlaine)

E se junta aos intelectuais da época, simbolistas e parnasianos, levado por Paul Verlaine, que se deixa seduzir pelos versos francos e ansiosos de Rimbaud e...fatalmente se apaixona por ele. Mas não vou discutir esse relacionamento tempestuoso dos dois aqui; simplesmente hoje quero que vocês "sintam" a felicidade plena de ser livre, deliciosamente "sentida" através do tato, da visão, do paladar, do olfato e da audição; aqui, poesia se transforma ardorosamente em música, evocando sensações um tanto esquecidas na vida moderna:

E desde então no Poema do Mar mergulhei,
Cheio de astros, latescentes, devorando
Os verdes céus, onde às vezes se vê,
Lívido e feliz, um sonhador boiando.

Onde tingindo de repente o infinito, delírios
E ritmos lentos sob o dia em esplendor
Mais fortes que o álcool, mais vastos que nossas liras,
Fermentam as sardas amargas do amor!

Sei dos céus rasgando-se em raios, e das trombas,
Das ressacas e da noite e das correntes,
Da Alba exaltada igual a um bando de pombas,
E o que o homem acreditou ver viram meus olhos videntes!






sábado, 5 de maio de 2012

Refletindo com John Steinbeck


John Steinbeck (1902-1968) é um dos grandes escritores da Literatura Norte - Americana por usar, como eixo norteador em sua obra, a denúncia social. Estamos falando aqui da situação do trabalhador americano em uma época não tão gloriosa para os EUA: quando a crença absoluta no capitalismo cai por terra a partir do crash da Bolsa de Valores de New York, em 1929, o que resulta nos anos seguintes na chamada Grande Depressão e em uma tremenda escassez de emprego em todo o país. Steinbeck destrói para nós, leitores, o tal do American dream como poucos...E suas histórias de gente simples, esperançosa, têm conquistado muitos seguidores...



Mais conhecido pelo romance As vinhas da ira (The grapes of wrath) e pela novela literária Ratos e Homens (Of mice and men - foi com essa que ele ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1962), peço licença aqui para comentar minha leitura preferida de Steinbeck: A leste do Éden (East of Eden, 1952):


Quem bem conhece Steinbeck sabe que ele não abandona a localização geográfica que mais conhece, o Vale do rio Salinas no estado da Califórnia - oeste americano - região paradoxal de fartura e pobreza: fartura nas cidades que margeiam o rio, grandes produtoras de feijão, alface, laranjas e pêssegos; pobreza nas cidades que se afastam do rio, com um solo e clima áridos que não permitem uma sobrevivência digna, mas que o homem teima em se fixar ali. Nesse contexto de saga conhecemos aos poucos duas famílias bem diferentes, os Trasks e os Hamiltons, que em um determinado momento da trama se encontram nos laços de uma bonita e fiel amizade protagonizada pelas personagens Adam Trask e Joe Hamilton.


Mas o mote explorado no romance é a questão da maldade, apresentada aqui na figura angelical de uma mulher fria e calculista que engana a todos para ter o que quer. A análise da personagem Kate é explorada a exaustão na obra sempre deixando implícito a seguinte pergunta: já nascemos com a maldade na alma? Pois ela mente, rouba e mata com a mesma frieza que abandona os filhos logo após parí-los. Sem contar sua trajetória de perversidade desde a infância, que culmina momentaneamente no assassinato dos pais. Quem desconfiará de um rosto inocente? Bem, o autor tenta explicar utilizando seus embasamentos na Psicologia, Filosofia, Sociologia e História até trazer a Religião à tona. Daí o título da obra, observado também na escolha dos nomes das personagens.

Pouco tempo após sua publicação, A Leste do Éden foi adaptada para o cinema em 1955, tendo o lendário ator James Dean no papel do atormentado Cal Trask - que descobre que sua mãe, Kate, está bem viva ao contrário do que lhe disseram e é dona de um grande bordel. Mas o filme perde feio pra obra em si, até porque como disse antes, o romance é uma saga, é bem extenso e a película só retrata a parte final da história. Para o espectador, é um grande filme; para o leitor, é frustrante.


A personagem Caleb Trask, filho abandonado de Kate, meio rejeitado pelo pai Adam, rival do irmão gêmeo Aaron, reflete bem a teoria determinista: quando descobre de quem é filho, tenta justificar/se aceitar como pessoa má, não merecedora das coisas boas que a vida nos traz, como por exemplo o amor.



 Mas então o que nos define? Essa é outra pergunta que fica...além da eterna busca pelo conforto da crença em Deus - semelhantes ao Pai e tementes a ele, por que erramos tanto? Como nos aceitar se não entendemos que somos/ vivemos sempre em dualidade, tentando encontrar o melhor caminho para a redenção? 

terça-feira, 1 de maio de 2012

Outro look da noite: inspiração retrô!


Vestido comprado no Armazém Paraíba (meu shopping quando estou em Caxias-MA! kkkkkk): R$ 70,00! Cinto trançado C&A; Carteira Kenneth Cole (presente da minha tia americana, thanks tia!); anabelas super confortáveis Empório Naka (dando um tempo nos saltos altos - tive uma leve torção no tornozelo rsss); brincos e anel Bárbara Strauss (comprados em SP faz tempo); bracelete Strato- presente da irmã.

#tentando ser uma mocinha comportada...#