sábado, 26 de janeiro de 2013

A delicadeza do amor


A delicadeza do amor (La delicatesse, França, 2011) é um dos filmes mais belos e mais singelos que chegou às telas nos últimos tempos. E ele fala sobre o inesperado surgimento do amor...daquele tipo de amor que nasce sem os dois quererem, sabe?


Nathalie (a maravilhosa Audrey Tautou) vê toda sua vida mudar após a morte do marido, com quem vivia um casamento e existência felizes. Para aplacar sua dor, ela se joga no trabalho e nem percebe que com o passar dos anos sua imagem é vista como a de uma mulher que não só não possui uma vida pessoal, como a de alguém dura, incapaz de amar. Ao escutar essa descrição de si mesma pelos corredores da empresa, Nathalie faz algo inusitado: tasca um beijo na boca de um colega de trabalho, do nada!


Talvez ela faça isso para saber se ainda está viva, se realmente é capaz de sentir ou tocar alguém de forma íntima, e para isso nada melhor do que um beijo! Mas Nathalie não calcula a reviravolta que fará na vida de Markus (o engraçadíssimo François Damiens), o colega feio e desajeitado que ela escolhe justamente pra dar esse beijo! O que se segue é o aflorar de vários sentimentos "esquecidos" por Nathalie, começa uma espécie de readaptação a uma vida dita "normal"; ela se permite sair novamente, conhecer Markus, enfim, se abrir para o mundo novamente...e arriscar no terreno amoroso.


Ao se "permitir" deixar as coisas acontecerem - Markus não se acha merecedor da bela e inteligente Nathalie, portanto as ações dele são muito dignas de risos - os dois serão vistos pelos outros como um casal improvável e isso vai ocasionar situações no mínimo interessantes! Quanto à parte técnica, o título faz jus ao filme, que tem todas as sutilezas e delicadezas possíveis e belas: a metáfora do cabelo (ao se abrir para o amor, Nathalie começa a deixar o cabelo solto, o que é visto por Markus como algo sexy); o "primeiro beijo" oficial que Markus não consegue dar, mesmo com um cenário exuberante ao fundo com a Torre Eiffel etc.; o jeito que ela o toca no rosto e lhe diz que está tudo bem, que não liga para os olhares incrédulos dos outros...E quando perguntam a Markus como ele se sente ou qual o efeito que ela possui quando ele está com ela, ele responde: "Elle me permet d'être la meilleure version de moi même" (Ela me permite ser a melhor versão de mim mesmo).



Vale muito a pena assistir e se deixar levar por essa história de amor...pois no fim das contas, é assim mesmo que acontece: por nada ser definitivo é que devemos seguir em frente...


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Byron Apaixonado...


Não é um romance, mas a autora Edna O'Brien bem que tenta romantizar a biografia de um dos maiores poetas da literatura mundial, Lord Byron. Ele não foi precursor do Romantismo inglês como acreditam alguns, mas foi quem consolidou essa estética que ultrapassou o simples âmbito artístico.


O'Brien discorre, explica e desmitifica todos os burburinhos que permeiam a vida de Byron. Por exemplo, o paradoxo de ter uma origem nobre mas sem muito acesso ao dinheiro em si; o recebimento do título de Lord aos 11 anos, a partir da morte do avô; suas más relações com sua mãe. Byron cresce em busca de companhias, bebidas e aventuras, e gradualmente sua paixão pela literatura coincide com a difusão do Romantismo na Europa - no caso dele, começo do século XIX. Os casos amorosos são realmente um capítulo à parte - amar o amor: era esse o comportamento de Byron; acender a chama e viver pelas conquistas, as quais não foram poucas e de ambos os sexos rsss


Por ser muito bonito, causava furor por onde passava, tanto em homens quanto mulheres, solteiros ou casados...O autor de inúmeros poemas passionais, melancólicos e de Don Juan estava sempre em busca de algo que não sabia bem o que era...o desespero de ser alguém importante além de seu título nobre o perseguia; o desejo de participar das grandes revoluções, sentimento muito próprio do Romantismo, o acometeu e o levou até a Grécia, para alistar-se na Guerra de Independência Grega. Lutar por uma causa que não era a sua acabou com sua vida, aos 36 anos: Byron contrai febre tifóide após galopar na chuva...


Qualquer pessoa que estude Romantismo não pode passar sem ler um poema de Byron...sem dúvida, o alto grau de subjetivismo e emoção são características recorrentes em seus poemas. A única exceção, e daí ele ser reconhecido como gênio em sua época por vários críticos, é a obra Don Juan: de tom satírico, retrata em versos (mais precisamente 17 cantos) as (des)venturas de Juan. A inspiração do personagem título vem das loucuras cometidas pelo próprio Byron e o colorido das cenas retratadas (as terras quentes banhadas pelo Mar Mediterrâneo) foram visitadas exaustivamente pelo poeta. Agradável de se ler e muito engraçada, deixo aqui com vocês um pouquinho desta obra tantas vezes injustiçada em sua essência; neste trecho é contada a primeira conquista de Don Juan - aos 16 anos ele se envolve com Dona Julia, senhora jovem e bonita, casada com um distinto e velho fidalgo...mas que não consegue resistir ao charme e às investidas do rapaz rsss:

[...]Os olhos dela (adoro olhos bonitos) eram grandes e negros, 
suprimindo metade do fogo quando ela falava,
e através desses olhos existia um suave disfarce,
que se iluminava numa expressão mais de orgulho do que de ira,
e de amor, e depois crescia nesses olhos algo que não era desejo,
mas poderia ter sido, talvez, se não fosse pela alma
que lutava contra este sentimento lá no íntimo.

Seu cabelo brilhante caía por sobre os olhos,
brilhante e inteligente, e belo, e suave;
o formato de suas sobrancelhas eram arqueadas,
suas bochechas eram rosadas como o brilho da juventude,
demonstrando às vezes um fulgor,
como se suas veias dilatassem.
Ela, na verdade, possuía graça e jeito incomuns;
ela era alta - eu odeio mulheres baixinhas.

Há alguns anos era casada com um homem de 50,
e tais maridos existem aos montes;
mesmo assim, penso que em vez de UM
era melhor ter DOIS de vinte e cinco,
especialmente em países quentes,
e agora me vem à mente que
damas de virtude mais "inquieta"
preferem um marido de no máximo 30 anos.

É uma coisa triste, devo dizer,
e é tudo culpa deste sol indecente,
que não deixa em paz nossa pobre carne!
Ao contrário, fica nos assando, queimando, grelhando,
que só nos resta rezar;
A carne é fraca, e a alma imperfeita;
o que os homens chamam de galanteio, e os deuses de adultério,
é muito mais comum onde o clima é sufocante. [...]
(tradução livre minha, do texto que pode ser lido no original aqui)

Alguma semelhança com nossa vida nos trópicos é mera coincidência, não é? :)