O brilho de uma paixão (2009) nos traz os últimos anos de vida do poeta romântico inglês John Keats, apesar de que a vida dele mesmo foi muito curta - morreu com apenas 26 anos. Todo o sentimento platônico romântico, toda a filosofia melancólica romântica, todos os matizes, toda a natureza exuberante e depressiva - facetas permanentes da estética romântica - são capturados aqui pela sensível direção de Jane Campion.
Seus últimos 2 anos de vida, os mais produtivos de John Keats, também revelam o ápice do envolvimento amoroso com Fanny Brawne, com quem chega a noivar em 1819 mas cujo casamento nunca chegaria a se concretizar, pois Keats além de viver às custas de amigos ainda estava doente - tinha tuberculose.
Muito lembrado pelo famoso poema romântico "La belle dame sans merci" (apenas o título está em francês, que significa "A bela dama sem piedade"), Keats consegue o reconhecimento nas rodas literárias e consequentemente na Literatura Inglesa quando publica o seu Lamia, Isabella, The eve of St.Agnes and other poems em 1821, meses antes de morrer.
Para Harold Bloom, um dos maiores críticos da atualidade, Keats viveu o Alto Romantismo; sendo influenciado pelas leituras de William Shakespeare, é considerado o "gênio da aceitação trágica", extremamente melancólico. Por intuir que não viveria muito, seus poemas, em sua maioria escritos no estilo clássico de ode, apresentam um eu lírico atormentado, inquieto, negativo e mórbido; porém a genialidade de Keats reside no uso perfeito da língua inglesa, que qualquer tentativa de tradução não consegue abarcar a emoção do poeta em suas longas odes. Temos aqui um trecho de sua Ode à Melancolia (Ode on Melancholy), um de meus poemas preferidos:
Ela tem Beleza - Beleza que há de morrer;
e enlevo, cuja mão sempre acena adeus,
estando o Prazer dolorido bem por perto,
buscando veneno enquanto a abelha suga:
Sim, é mesmo no templo da Alegria
que a Melancolia faz seu santuário,
sem ser vista, exceto por aquele
cuja língua explode a uva no céu da boca,
e cuja alma há de provar da força da dor,
e entre os seus troféus sombrios ser pendurada. [...]
É a clássica referência romântica ao estado permanente de tristeza, ou melancolia... Mesmo na alegria ela se instala imperceptível, pois a dor de viver é sempre maior - essa é a filosofia mais pura seguida e vivida por vários autores românticos, inclusive pelo nosso representante nacional, o poeta Álvares de Azevedo: na ânsia de viver reside a mesma ânsia de partir...