domingo, 15 de outubro de 2017

"Ragtime" - E.L.Doctorow

(1975)

Olá queridos leitores, tudo bom? Já temos nosso canal no YouTube, com o mesmo nome do blog - A Beletrista! Fiz o vídeo-resenha deste romance, Ragtime, em setembro, mas está valendo! Prometo que no início de novembro teremos conteúdo novo lá no canal, assim como aqui também, certo? Cliquem aqui embaixo para assistir o vídeo, se inscrevam no canal, curtam e compartilhem! Até a próxima leitura!



quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Quase memória - Carlos Heitor Cony

(Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 2014)

Não, não poder ser: o papel, o barbante, a tinta com a qual escrevera meu nome, tudo é recente, um embrulho feito em dois, três dias antes. (p.113)

Olá leitores, tudo bom com vocês? Hoje vamos comentar um pouco sobre a obra Quase memória do autor Carlos Heitor Cony. Ele compõe o rol de autores contemporâneos da Literatura Brasileira  - publicou romances, contos e crônicas, além de atuar como jornalista desde a década de 1950. Cony integra a Academia Brasileira de Letras desde 2000 e atualmente é colunista da Folha de São Paulo. Quase memória foi publicada em 1995 e levou pra casa um Prêmio Jabuti e o Prêmio Livro do Ano da Câmara Brasileira do Livro (ambos de 1996). Está bem recomendado, não é? Vamos à história.

Em um dia normal, o narrador-personagem, que é jornalista, recebe um pacote - embrulhado e escrito de um jeito muito particular por alguém bem conhecido: seu pai. A questão é que este pai está morto há 10 anos, o que logo suscita a dúvida em nós leitores: como pode estar morto se parece que o pacote foi embrulhado ontem? O narrador não tem coragem de abri-lo, colocando-o em cima de sua mesa na redação do jornal, e em seguida é tomado por lembranças e memórias deste pai - aquele que tantas vezes o fez "passar vergonha" mas que tinha um jeito todo seu de resolver os problemas que a vida lhe apresentava, sempre com muita criatividade e bom humor.

Apesar de ser meio ficção (não sabemos até que ponto os fatos lembrados são verdadeiros), meio memorialista ( o narrador passeia por sua infância, adolescência e início da vida adulta para contar as histórias sobre o pai), o romance não tem uma característica de ser saudosista ou melancólico - pelo contrário, e foi aí que o Cony me ganhou na leitura. Ao contar de forma bem engraçada sobre os acontecimentos da vida do pai que também era jornalista, o narrador nos leva ao Rio de Janeiro das décadas de 1920, 1930 até a década de 1960 - pois o pai dele trabalhou bastante durante esse período cobrindo os mais variados eventos políticos (a exemplo da ascensão de Getúlio Vargas ao poder por meio da Revolução de 30).

Destaco também que o retrato feito dos bastidores da imprensa é muito interessante. A abordagem sobre a ética profissional, perseguições políticas, coberturas de notícias, movimento nas redações dos jornais - tudo é mostrado de forma com que nós, leitores, percebamos que a imprensa é de fato o 4º poder, mas que ali não tem glamour nem luxo - tem é muito trabalho, sim senhor, e na maioria das vezes sem hora pra acabar! (e pensar que eu queria ser jornalista na época que prestei vestibular, oh céus! Mas tenho muito respeito por essa profissão.)

Em quase 300 páginas, fica cada vez mais claro para nós leitores que o que importa não é saber o que tem no pacote - o mais importante são as memórias que ele suscita. Celebrar os fatos vividos e revivê-los por meio das lembranças, sejam elas fidedignas ou não, nos fazem nos sentir vivos em qualquer época de nossas vidas. Rememorar é viver? Bom, creio que ao acessar o passado, consigo entender melhor como eu fui e como quero ser amanhã. O tempo não é meu inimigo - ele só ajuda, cada vez mais, a me entender como ser humano.

E já que a literatura namora sempre com minha outra paixão, o cinema, quero deixar a dica de dois filmes pra vocês assistirem nesse feriadão. Primeiro o filme produzido pelo meu ídolo Oswaldo Montenegro, O perfume da memória (2016). Você pode assistir no YouTube clicando aqui, e por favor, sem preconceitos! 


O outro é Para sempre Alice (2014), com uma de minhas atrizes favoritas: Julianne Moore:




Viver era mais importante para ele. E ele descobrira que as coisas boas (ou que ele considerava boas) podiam ser conseguidas com pouco ou com nenhum dinheiro. (p.77)