quinta-feira, 26 de abril de 2018

Depois do baile - conto de Lev Tolstói

(Disponível em Livraria Cultura )

"O fato de que eu a amava era o suficiente para mim. E eu temia somente uma coisa, que algo estragasse a minha felicidade."

Gente, falei no post anterior que estou muito leitora de contos este mês de abril. A indicação hoje nos leva para a Literatura Russa e para um dos grandes nomes desta literatura: Lev (ou Liev) Tolstói (1828-1910). Muitos de vocês o conhecem pelo romance que é um clássico universal, Anna Karenina (publicado em 1877), mas o conto Depois do baile chamou minha atenção por ter sido publicado postumamente (1911, mas foi escrito em 1903) e por fazer uma quebra de expectativas quanto a seu título. Explico.

Em uma roda de conversa, Ivan argumenta com seus interlocutores que muitas vezes o acaso é o fator determinante para que tudo mude na vida de alguém; como argumento para sua ideia, dá o exemplo do que aconteceu na época em que ele era um jovem universitário. Acreditando-se apaixonado "profundamente" por Várienka, filha de um renomado e distinto "comandante militar", encontra-se com ela num baile e dança com a moça a noite inteira, chegando inclusive a receber dela uma pluma de seu leque, algo tipicamente romântico e comum em flertes. 

Volta para casa de madrugada mas como já se pode imaginar, não consegue dormir e entra em devaneios. Inquietado por pensamentos de amor e na urgência de ver a amada novamente, Ivan caminha em direção à propriedade que Várienka mora com sua família, e o que vê ali, por acaso, muda sua certeza diante desse amor. Aliás, diante da vida. 

Pensamos no início que se trata da narrativa de mais uma história de amor malfadada, porém do meio do conto para o final é que percebemos a quebra de expectativa a qual relatamos no início. Percebemos também o quanto Tolstói compreendia seriamente a história e cultura russa ao inserir o fato presenciado por Ivan neste conto. Para um leitor desavisado, é necessário recorrer à uma pesquisa básica para entender a questão, que gira em torno da cultura tártara e de sua intolerância pelos russos. Sem isso, será difícil compreendermos como Ivan sai da inocência para a maturidade em tão pouco tempo. 

"Comecei a olhar para lá e avistei, no meio das fileiras, algo terrível, que se aproximava de mim."

quinta-feira, 19 de abril de 2018

O colar - conto de Guy de Maupassant

(Disponível em eBook Kindle por R$ 3,88 na Amazon.com)

"Não tinha dote, nem esperanças [...]"

Olá pessoal, tudo bom? Esse mês de abril estou muito dedicada à leitura de contos, ou de forma avulsa ou por meio de coletâneas. Sou muito fã deste gênero; fiz meu trabalho de conclusão de curso na faculdade analisando um conto maravilhoso de Machado de Assis, "Pai contra mãe" e sempre achei que uma história bem contada, mesmo com uma extensão curta, vale profundas análises.

 Trago para vocês a indicação de leitura de uma história narrada de forma ágil e certeira sem perder o humor e a crítica social: "O colar" (1884) do autor francês Guy de Maupassant (1850-1893), considerado por críticos literários como um mestre do gênero conto.

A ideia central gira em torno da seguinte questão: o que você faria se tivesse perdido o colar de diamantes que pegou emprestado de uma amiga rica para ir ao tão sonhado baile de sua vida? Pois é. A sra. Mathilde Loisel, bonita mas pobre, muito ambiciosa e casada com um escriturário resignado à vida comum de funcionário público, sonha com coisas muito distantes de sua realidade: bailes, joias, belas carruagens e aventuras amorosas. 

Um dia seu marido, acreditando fazer sua esposa feliz, consegue com muito custo um convite para o baile que será dado pelo Ministro da Instrução Pública. Ela providencia a compra do melhor vestido e pede emprestada uma joia à sua antiga amiga de colégio, Jeanne, moça rica e bem nascida: um colar de diamantes deslumbrante.

Ao chegar em casa depois do baile, Mathilde percebe que perdeu o colar! Como fazer agora para explicar isso à tão gentil amiga? O que está por vir é a solução encontrada pelo casal Loisel para minimizar esse incidente desagradável. Não podemos deixar de pontuar que o clímax e o desfecho do conto são surpreendentes, aliados é claro, à uma crítica ferina sobre as classes sociais e à constante necessidade do ser humano de dar valor apenas às aparências. 

"Basta tão pouca coisa para nos pôr a perder ou para nos salvar!"

sábado, 14 de abril de 2018

Por ti, ó Democracia - resenha do poema de Walt Whitman por Eduardo S. Conceição* e Raylana R.P. Silva*

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(São Paulo: Ed.Martin Claret, 2005)

Por ti, ó Democracia

Vem, farei o continente indissolúvel,
Criarei a mais esplêndida raça sobre a qual o sol já brilhou um dia,
Farei terras magnéticas e divinas,
Com o amor dos camaradas,
Com o amor de longa vida dos camaradas.

Plantarei companheirismo espesso como árvores ao longo de todos os rios da América,
e ao longo das praias dos grandes lagos, e por todas as pradarias,
Farei cidades inseparáveis, com seus braços em torno do pescoço umas das outras,
Pelo amor dos camaradas,
Pelo amor varonil dos camaradas.

Para ti, isto de mim, ó Democracia, para servir-te, ma femme!
Para ti, para ti, estou vibrando estas canções.

Estruturalmente, o poema de Whitman nos apresenta uma das características influentes do Romantismo: a liberdade formal, observada por meio dos versos livres e da ausência de um formato poético fixo. O eu lírico defende um empenho em ver um país unificado e indissolúvel, compreendendo o patriotismo como a base fundamental para se alcançar a democracia. Desse forma Whitman demonstra seu desejo de expansão, crescimento e solidificação para uma América próspera.

Parafraseando o crítico literário norte-americano Harold Bloom, a linguagem do poema parece de fácil entendimento, mas é em sua sutileza que o eu lírico demonstra seus ideais patrióticos, que ambiciona o crescimento de seu país, valorizando primeiramente a união entre todos os habitantes da América, já que todos compartilham desse mesmo desejo.

As metáforas inseridas magistralmente por Whitman  refletem o compromisso firmado entre o eu lírico e sua dama, "ma femme", que simboliza a sua pátria; é à ela que lhe deve toda a dedicação e força, ao "servi-la". Esta pátria, com suas "terras magnéticas", atrairia tudo e todos úteis a seu desenvolvimento, e consequentemente, repeliria tudo o que a enfraquecesse. É importante notar também que o futuro da pátria depende do companheirismo e amor entre seus habitantes - por isso o eu lírico roga pelo "amor dos camaradas". Esse amor másculo pretende ser símbolo de força e proteção para sua "femme".

Espalhar e "plantar" esse companheirismo ao longo de toda a extensão do país é uma meta para o eu lírico - novamente, este ato fortificará e unirá ainda mais a todos.

Vivendo um momento de profundas mudanças nos EUA - que é o século XIX - e observando como se constitui a nova identidade deste novo país, Whitman estabelece nesse poema que a união de todos em prol de um bem comum é condição sine qua non para que o país cresça forte e tenha um futuro brilhante e próspero. Esse seria o verdadeiro ideal de democracia.



* Os autores desta resenha são alunos do 7º período do Curso de Letras/ Inglês da Universidade Estadual do Maranhão/ Campus Caxias. O texto foi produzido para alcançar a primeira nota da disciplina Literatura Norte-Americana ministrada por mim este semestre.