sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Persépolis - Marjane Satrapi

(São Paulo: Ed. Companhia das Letras, 2007)

Olá pessoal, tudo bom? Já estamos por aqui no clima gostoso e leve do Natal! Nestes últimos dias do ano traremos indicações de leituras infantis e juvenis, mas que a meu ver também servem para nós, adultos. Portanto, fiquem de olho também lá no Instagram (@naterciagarr), no Facebook (Natércia Garrido) e no nosso canal no YouTube (A Beletrista), porque postaremos dicas variadas nas redes sociais. 

Enquanto crítica literária, não acredito muito nessa segmentação criança / adolescentes / adultos - ahhhh, pensem comigo: literatura quando é boa não importa a faixa etária, não é mesmo? E além do mais, vamos olhar para os fatos: praticamente todos os autores que escreveram literatura de "adultos", já inseridos no cânone literário, também escreveram para crianças, a exemplo de Clarice Lispector, Julio Cortazar, Patrick Modiano, Moacyr Scliar etc. A gente poderia ficar horas aqui citando mais autores. O século XX veio para desbancar essa segmentação e propor novos paradigmas, inclusive fazendo com que a literatura infantil e juvenil abordasse temas "mais adultos". Vale lembrar, porém, que a intenção educativa, com veiculação de mensagens positivas e edificantes permanece como característica fundamental da literatura infantil e juvenil.

Não considero Persépolis um exemplo desta literatura, mas é bom que se diga que grande parte da obra, toda escrita no formato de história em quadrinhos, se passa entre a infância e a adolescência da personagem principal, que é a própria escritora Marjane Satrapi. Sim, é uma obra autobiográfica. Ela relata de forma leve e muitas vezes irônica, vários percalços pelos quais passou dos 10 até os 24 anos, tendo como pano de fundo as questões político-religiosas vividas no Irã. Creio que é uma ótima oportunidade para nós conhecermos um pouco da história recente deste país, mais precisamente aquela vivenciada por Satrapi a partir de 1979, quando ela tinha 10 anos: o início da Revolução Iraniana (mais uma no looooongo capítulo da história da Pérsia = Irã), que depõe o Xá (Rei) Rehza Pahlavi e coloca no poder Ruhollah Khomeini, clérigo xiita fundamentalista que institui a República. 

A menina Marji vai narrando tudo o que acontece a partir desta revolução, e os efeitos práticos em sua vida (volta a usar o véu) e de sua família: ela é filha única de um engenheiro e de uma dona de casa, ambos muito politizados, cultos e modernos. A educação que Marji recebe em casa, aliada à convivência com os amigos "rebeldes" dos pais faz com que ela tenha uma visão dos fatos bem peculiar e bem crítica - algo impensável para uma criança de 10 anos, imagine para uma garota!

Ela cresce conhecendo também a história de resistência política de sua família, que se confunde um pouco com a própria história do Irã: descobre que descende de um imperador e que o avô e o tio foram presos políticos por serem comunistas. Descobre que os países do Oriente Médio, dentre eles o Irã, são muito visados por sua riqueza de petróleo, e que as alianças políticas só duram no tempo em que o acordo for vantajoso para os países do Ocidente, dentre eles os EUA e a Inglaterra.

Marji também vivencia um país em guerra e todas as atrocidades que decorrem desta situação: após a Revolução Iraniana, o Irã declara guerra ao Iraque - inimigos de longa data - e o conflito se estende por 8 anos. Pressentindo que a educação que deram à filha não tornará a vida dela fácil no próprio país (por conta de suas ideias revolucionárias e porque não aceitavam as condições de submissão impostas às mulheres pelo regime xiita), os pais de Marji decidem enviá-la à Viena, na Áustria, aos 14 anos, para que ela conclua seus estudos lá e tenha uma outra oportunidade de vida - com mais liberdade e independência. Desta forma, novas aventuras e desafios esperam por Marji na Europa: novos amigos, a adaptação a uma nova língua e a um novo ambiente, a solidão, o primeiro amor, a rejeição de sua identidade e depois o resgate desta - o que a fortalece ainda mais.

Persépolis é uma obra que nos ensina, pelo olhar de uma menina, como é difícil fazer a transição para a vida adulta e mesmo assim permanecer fiel a seus valores. Pela vivência de Marji, percebemos que o que a sustenta e forma seu caráter é justamente a educação, o amor e o apoio incondicional recebidos de sua família, e no fim das contas, é isso o que somos: adultos formados pela criança que fomos um dia. 


















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