quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Todos nós adorávamos caubóis, romance de Carol Bensimon

(São Paulo: Companhia das Letras, 2019)

"Todas as ótimas ideias já pareceram más ideias em algum momento" (p.17)

Olá beletristas, tudo bom? O primeiro post do ano traz para vocês a resenha do romance aí da foto, com o título inusitado Todos nós adorávamos caubóis da jovem autora gaúcha Carol Bensimon. Em 2018 ela ganhou o principal prêmio literário brasileiro, o Jabuti, pelo romance O clube dos jardineiros de fumaça. Não o li, mas lembro que na época muitos bloggers e booktubers o resenharam e houve muitas opiniões divididas pelo tema um tanto polêmico: cultivo ilegal da maconha. Atualmente Bensimon mora na Califórnia (EUA) e para mais informações sobre ela vocês podem acessar seu site oficial AQUI.

Todos nós adorávamos caubóis foi publicado em 2013 e alia dois estilos que eu particularmente gosto em romances: o road novel ("romance de estrada", em uma tradução bem grossa) e o de formação. E explico porquê. A narradora-personagem Cora é uma jovem brasileira que estuda Moda em Paris e resolve passar suas férias na terra natal junto de sua velha amiga da faculdade de Jornalismo, Julia. Elas combinam de se encontrar em Porto Alegre (Julia mora e estuda em Montreal, no Canadá) para realizarem um antigo sonho: pegar a estrada e percorrer as cidadezinhas do interior do Rio Grande do Sul, sem muitas expectativas. Taí configurado o estilo road novel.

Mas e o romance de formação? É que ambas vão usar a "desculpa" da viagem para tentar entender não só seus problemas particulares, como o próprio relacionamento que elas tem uma com a outra, e que foi abalado por um acontecimento na época da faculdade. Essa viagem é uma tentativa de resgatar o que foi perdido ou ficou obscuro no passado, apesar de Cora achar que essa viagem já estava fadada ao fracasso desde o início.

Cora é bissexual e ainda apaixonada por Julia; Julia não tem bem certeza sobre esse relacionamento. Cora precisa enfrentar o fato de que seu pai casou de novo e terá um filho; ao invés de chegar a Porto Alegre e acompanhar o nascimento do meio-irmão e matar as saudades da mãe, ela se embrenha com Julia rumo a cidades de nomes cômicos, como se fugisse da realidade. Essa é uma viagem de amadurecimento para as duas; elas não sairão ilesas ao fim - taí o romance de formação.

A temática mais latente na história é a questão da descoberta e afirmação da sexualidade. E ela vai se revelando aos poucos para o leitor, pois a viagem que acontece no presente é entrecortada por lampejos do passado das jovens, remetendo a fatos ocorridos na infância, adolescência e faculdade, e como elas lidaram com eles. Percorrer e conhecer a dinâmica das cidadezinhas apenas aumenta a lupa de como elas enxergam o que ficou para trás. Algumas cidades possuem importância histórica (caso de Bagé) ou são portas de denúncia (ou apreciação) por suas riquezas naturais, como Minas do Camaquã. O certo mesmo é que esses lugares são meros coadjuvantes para suas experiências e questionamentos sobre um futuro incerto.



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