quinta-feira, 1 de agosto de 2019

"Crystal: uma história de sincretismo e encantaria", romance de Samira Fonseca

(Itapecuru-Mirim, MA: Ponto a Ponto Gráfica e Editora, 2017) Disponível para compra na Livraria AMEI do São Luís Shopping (São Luís, MA)

Olá beletristas, tudo bom? Cumprindo minha promessa de trazer mais indicações de leitura e resenhas de autores maranhenses aqui para este espaço, hoje vou falar de um romance mágico e contemporâneo que li recentemente: Crystal: uma história de sincretismo e encantaria. A autora Samira Fonseca é natural de Itapecuru-Mirim (MA), local onde reside e trabalha como professora, e é também uma das fundadoras da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes - AICLA. Conheci a cidade em 2005 por conta de uma disciplina que fui ministrar lá pela Universidade Estadual do Maranhão (permaneci apenas 1 semana), e confesso que após ler o romance de Samira simplesmente cheguei à conclusão de que preciso retornar à Itapecuru para observá-la com esse olhar de "encantaria" que me encantou após a leitura de Crystal. A ficção tem dessas coisas mesmo: faz com que nós, leitores, queiramos vivenciar as páginas da história narrada. De preferência ao vivo e a cores.

Mas em parte acho que consegui adentrar em algumas ambientações do romance, pois o enredo se passa tanto em Itapecuru quanto na capital São Luís. Como nasci na Ilha de Upaon-Açu, conforme São Luís era nomeada pelos índios que aqui habitavam à época do descobrimento do Brasil, reconheci muitos lugares em que o professor de Música Pedro passeia com sua amiga Crystal, advogada e professora de História. Porém Pedro também mora em Itapecuru, e a narrativa te leva a (re)descobrir essa cidade  com seus encantos e peculiaridades, em especial o sincretismo religioso que existe lá entre o candomblé e o catolicismo.

Como toda boa história, esta possui um conflito central bem interessante: Crystal nunca recebeu o presente deixado pelo avô após seu falecimento, pois a avó dela não permitiu. Intrigado com esse mistério, Pedro decide investigar que presente é este e onde estará, pois acredita que Crystal merece recebê-lo e que ele tem relação com a história da família dela bem como suas origens. A jornada empreendida por Pedro também será amorosa, já que ele é apaixonado por Crystal desde os tempos de faculdade. A única pista que ambos tem é um poema deixado pelo avô da moça:

Na união do Orisum e do Ombarisá,
Descansando no seio santo,
Coberto do mais fino ouro branco
Protegido pelas mãos de Oxalá.

A escrita de Samira ainda se prende a alguns academicismos que considero desnecessários à ficção contemporânea, porém não compromete seu estilo que está em amadurecimento, já que o escritor se encontra em permanente construção de si mesmo. A linguagem clara misturada à estrutura de capítulos curtos torna a narrativa ágil e nem de longe maçante; pelo contrário, me vi tão envolvida na história que a li em um dia e meio. 

Samira demonstra um conhecimento invejável de temas que expõe com propriedade crítica ao longo do romance, como o sincretismo religioso (em especial quando descreve o Tambor de Mina) e a situação histórica e social de exclusão de áreas quilombolas da região de Itapecuru, aliada à falta de políticas públicas de inserção. Por esses temas mais que pertinentes, e que pertencem à história de nosso país, e por retratar com tanto amor sua cidade é que a leitura deste romance não pode passar despercebido, nem aos leitores maranhenses nem aos leitores do restante do Brasil. 



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