sexta-feira, 2 de junho de 2017

Ainda estou aqui - Marcelo Rubens Paiva

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(Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2015)

Tentava, a todo custo, ser tratada não como uma doente, uma demente, mas como um ser igual a todo mundo, que, com a idade, é traído pela memória, fica velho, fica esquecido, fica esclerosado, velhinha.(p.27)

Olá meus leitores da vida, tudo bom? Vamos a mais uma resenha de uma ótima leitura! Ainda estou aqui (2015), romance do Marcelo Rubens Paiva, vocês podem adquirir sem medo aqui.

Por meio de um relato bem memorialista porém marcado pela objetividade de fatos verídicos, em que ficção e compromisso com a verdade se entrelaçam fortemente, o narrador tem como ponto de partida a descoberta de que sua mãe possui mal de Alzheimer. Por iniciativa própria, ele aceita ser seu tutor e, consequentemente, questiona como uma mulher como Eunice Paiva em breve não se lembrará mais de sua vida. 

E que vida, hein? Poucas pessoas podem se gabar de terem chegado aos 77 anos de forma tão ativa quanto Eunice, que teve que se reinventar aos 41 anos, com 5 filhos pra criar, no auge da década de 1970 e do regime militar; que teve que aceitar que o suposto desaparecimento do marido Rubens Paiva, engenheiro e ex-deputado federal, na verdade, foi um assassinato perpetrado por torturadores do DOI.

 A revolta transmutou-se em uma luta na persistência de existir: a moça de ascendência italiana e que adorava ler, formada em Letras, resolveu fazer faculdade de Direito e refazer a vida, triste por dentro mas alegre por fora. Terminou de criar os filhos, driblou as questões burocráticas legais por não conseguir provar sua viuvez - já que o corpo de Rubens nunca foi encontrado, abraçou a causa do Direito Indígena nos anos 1980...ufa! Tem mais, muito mais.

Histórias como a de Eunice devem ser lidas para que nos lembremos que uma vida inteira ainda é pouco pra quem quer realizar tanto. Histórias que tem como pano de fundo o período negro do regime militar no Brasil devem ser resgatadas e discutidas sempre que possível, já que somos, em grande parte, um país sem memória, tanto para fatos longínquos quanto para os fatos recentes. Também pudera. Quem nos educou de fato nos ensinou a pensar, a lutar? Quem nos educou nos deu o conhecimento das verdades não-oficiais? Um pessoa sem memória a gente aceita, pois a doença é algo involuntário. O que não se aceita mesmo é um país sem memória; sem olhos para o passado.

Assim era o Brasil da ditadura: o órgão que deveria defender os índios defendia os fazendeiros que invadiam as terras indígenas; a polícia federal, que deveria defender o direito do cidadão, defendia o Estado e o poder, que se sentia ameaçado pelo cidadão. (p.205)

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