(São Paulo: Ed.
Companhia das Letras, 2014.)
O dia de
lavar roupa era inadiável, mas ainda assim a lavagem semanal da roupa de cama e
mesa da casa era uma perspectiva desalentadora para Sarah. O ar estava gélido
às quatro e meia da manhã, quando ela começou a trabalhar. [...] Seria um longo
dia de labuta, e aquilo era só o começo. (p.13)
Me interessei em ler As sombras de Longbourn justamente porque seu enredo retoma um de
meus romances favoritos de todos os tempos: Orgulho e Preconceito, de Jane Austen. Mas retoma de um jeito
diferente, que não pretende distorcer nenhum dos fatos que nós, que já lemos o
famoso romance de Austen, conhecemos tão bem; não, não. As sombras retoma o mesmo enredo sob o ponto de vista da criadagem,
principalmente de Sarah, a jovem empregada da família Bennett – família esta
dona da propriedade Longbourn e pertencente à pequena aristocracia rural.
Órfã, Sarah foi levada ainda criança para
trabalhar para os Bennett – foi acolhida pela governanta / cozinheira da casa,
a sra. Hill, e pelo cocheiro, sr. Hill, ambos casados e que sempre a trataram
como filha. Apesar da jornada diária de trabalho que logo lhe foi imposta e à
qual cresceu acostumada, Sarah sempre soube que ali era o melhor lugar para
ela, pois tinha abrigo, comida e compartilhava das gentilezas das senhoritas Bennett,
principalmente de Elizabeth.
Porém, sua convicção é abalada quando seus patrões
contratam o jovem e calado James Smith, para trabalhar como lacaio e ajudar o
já cansado sr. Hill. Smith surge do nada procurando por emprego e ali encontra
não só acolhimento mas também a simpatia de Sarah.
Dentre os vários percalços que se desenrolarão
sob o olhar da jovem empregada, no que diz respeito às vidas de seus patrões,
ela mesma terá que amadurecer e perder a ingenuidade, inclusive se perguntando:
servir aos outros é realmente a que se resumirá toda sua vida? E quanto ao
amor? Ela também não será merecedora, tanto quanto Jane e Elizabeth?
Ler As
sombras permite conhecer o universo da criadagem de fins do século XVIII,
tanto aquela que habitava o mundo dos Bennett quanto a que cercava a grande
aristocracia, representada pelos senhores Bingley e Darcy (futuros maridos das primogênitas Bennett).
Por meio de suas pesquisas (até
porque se declara megafã de Austen), a autora Jo Baker reconta Orgulho e Preconceito do backstage: por meio de uma linguagem
fluida e gostosa, somos transportados para as pequenas alegrias e desejos assim
como os infortúnios e angústias de pessoas que deviam passar despercebidas da
rotina diária de seus amos.
Viver
assim, inteiramente à mercê dos caprichos e das fantasias de outras pessoas,
ela pensou, não era viver. (p.229)
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