Shakespeare apaixonado (Shakespeare in love, 1998) é um daqueles filmes que sempre valem a pena ser revisitados...Trabalhando a obra A MEGERA DOMADA com meus alunos este mês de setembro, fechamos o debate com este filme, cuja história é a dificuldade de Shakespeare, um dos grandes dramaturgos da literatura inglesa e mundial, em se inspirar; ele busca desesperadamente sua grande musa, mas nenhuma corresponde à altura da obra que ele quer escrever.
Em um baile ele se depara com a nobre Viola e logo se apaixona por ela, sem saber que a moça já está prometida em casamento a Lord Wessex, com o consentimento da rainha Elizabeth I. Viola ama o teatro e quando sabe que Shakespeare está procurando atores para sua nova peça, "Romeu e Julieta", ela se traveste de homem para conseguir o papel. E consegue. Ressalte-se que nessa época era proibida a participação de mulheres no teatro sob pena de prisão e fechamento do local.
O romance proibido entre os dois floresce, assim como a própria peça...E a pergunta que debati com meus alunos surgiu do próprio questionamento do filme feito pela rainha Elizabeth I: é possível que uma peça de teatro nos mostre a verdadeira natureza do amor? Em outras palavras, o que se quer saber é o seguinte: uma obra de arte consegue imitar com tal perfeição os sentimentos humanos?
Apesar dos extensos debates divergentes a respeito da vida e produção literária de Shakespeare, o que importa é que as obras estão aí, para serem estudadas. E o que o torna tão genial e inovador para a arte renascentista de então e para nós até hoje é sua preocupação em retratar o mais fielmente possível a complexa natureza do homem; suas vaidades, fraquezas e fracassos são a matéria prima das grandes tragédias como Hamlet, Rei Lear, Macbeth e Othello, para citar apenas algumas. Mas para finalizar esse post, que com certeza será o primeiro de muitos sobre Shakespeare pois a inspiração deste autor é eterna, destaco o soneto que está no filme - o Soneto 18 (detalhe: ele escreveu 154 sonetos sobre os mais variados temas):
Shall I compare thee to a Summer's day?Thou art more lovely and more temperate:Rough winds do shake the darling buds of May,And Summer's lease hath all too short a date:Sometime too hot the eye of heaven shines,And oft' is his gold complexion dimm'd;And every fair from fair sometime declines,By chance or nature's changing course untrimm'd:But thy eternal Summer shall not fadeNor lose possession of that fair thou owest;Nor shall Death brag thou wanderest in his shadeWhen in eternal lines to time thou growest:So long as men can breathe, or eyes can see,So long lives this, and this gives life to thee.*************Devo comparar-te a um dia de verão?tu és mais agradável e mais serena:os ventos ásperos balançam os ternos botões de maio,mas o verão não dura para sempre.Ás vezes o sol brilha mais fortee muitas vezes seu aspecto dourado é ofuscado,e toda beleza ás vezes diminuipor acaso ou por causa das mudanças naturais da vida:mas teu eterno verão não deverá se esvairnem perder aquela beleza que tu possuis;nem a Morte poderá se vangloriar de que rondaste sua sombrapois na verdade crescestes no tempo em versos eternos:Enquanto os homens respirarem ou os olhos puderem ver,assim estes versos viverão para sempre, e isto te dará vida.************Aqui o poeta imortaliza a beleza e a virtude da amada...o uso da metáfora do "verão" significando a juventude e a beleza nos diz que estas condições humanas são temporárias mas uma vez ressaltadas em versos, tornam-se eternas... é assim mesmo, como diria Hipócrates : Vita brevis, ars longa (a vida é curta, a arte é longa)...
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